Marley & Eu de John Grogan

  • on 04/12/2009



  • A literatura atual assumiu características quase “didáticas”. As pessoas lêem os livros apenas para aprender sobre culturas ou situações diferentes ou aprimorar a si mesmo. Como ver isso? Livros de auto-ajuda são uma mina de ouro para escritores e um dos mais vendidos escritores atuais, Dan Brown, ficou conhecido não pela história primorosa ou por uma questão técnica, mas por colocar informações polêmicas em seu livro. Cada vez mais a literatura como arte parece despropositada, algo relevado apenas a uma elite intelectual. Mas esse cenário também nos revela surpresas agradáveis.
    Justamente por achar que os clássicos são cada vez mais destinado a cultura erudita e que a maior parte das minha resenhas  sejam sobre livros um pouco pesados ou mesmos estranhos a maioria das pessoas, vim escrever sobre um de que gostei bastante.




    John Grogan(1957-) é um jornalista e escritor norte americano e é colunista do jornal Philadelphia Inquirer. O seu grande mérito literário? Nenhum. Alguma história surpreendente? Muito menos. O que ele conseguiu, por mais sentimentalista e clichê que possa parecer, foi tocar o coração de uma geração ao escrever sobre Grogan’s Majestic Marley of Churchill(sim, coitado do cachorro), vulgo Marley, seu pior cão do mundo. E exatamente o que esse livro tem de especial é ser tão pessoal e sentimental. Por serem pessoas comuns, enfrentando situações comuns e por ser tão sem acontecimentos inusitados que ele consegue prender nossa atenção e se torna um livro diferente para cada pessoa que o lê. Pode lembrar do seu cachorro, que de tão perfeito, parecia a Lessie; ou do seu que destruía todos seus móveis; ou mesmo não lembra-ló de nada e deixa-ló com uma sensação de vazio. Por isso que julgo que o filme, mesmo que tenha o componente visual, mexe menos conosco. Ao tirar situações aparentemente sem importância, colocar Jennifer Aniston e Owen Wilson nos papéis principais e colocar uma trama com John em dúvida se vai ou não tentar uma carreira no New York Times, tirou muito da história.

    Ver Marley acompanhando John e Jenny, sua mulher, desde que eram um jovem casal recém casado até a construção de sua família com três filhos, passando por abortos, colares de ouro desaparecidos, (muitas) tempestades de raios, rejeição dos cachorros das Bocahontas. Dentro de toda a história, tentam adestrar Marley para ele causar menos confusão. No final, ele adestrou John, sua família e a mim também.
    Trecho do livro:

    Por mais patético que parecesse, Marley se tonara minha alma gêmea masculina, um companheiro constante, meu amigo. Ele era o espírito livre, indisciplinado, recalcitrante, não-conformista e politicamente incorreto que eu sempre quis ser, se eu tivesse a  coragem de sê-ló, e eu me regozijava com sua verve inquebrantável. Não importa quão complicada a vida se tornara, ele me lembrava de suas simples alegria. Não importa quantas exigências me fossem feitas, nunca me deixava esquecer que a desobediência voluntária algumas vezes vale a pena. Num mundo cheio de caciques, ele era seu próprio senhor.”
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