A conferência sobre o clima em
Copenhague já começou. E aí? Está cheio de esperança por um mundo carbon-free? Se você é um economista liberal, como eu, ou um amante da liberdade em geral, deve estar é muito apreensivo com o que aqueles burocratas vão inventar para aumentar seu poder e piorar nossa vida. Contudo, devo confessar, nutro no fundo da minha alma a singela esperança de que, como costuma acontecer nessas reuniões, cada um defenda o seu e no final nada mude. De minha parte, só queria que os ecochatos poupassem o meu ar. E não estou sozinho. É notório que entre os economistas o discurso ambientalista encontra resistência. Não nos dando por satisfeitos em louvar a ganância e oprimir os pobres, fazemos questão de um mundo poluído e desértico. Ciência lúgubre mesmo. Querem saber, na realidade, por que os economistas não aceitam o aquecimento global? É por causa de seu olhar cortante, que vê muito além do lado puramente científico do debate.
O principal motivo para o ceticismo dos economistas (dignos do nome) é a desconfiança instintiva das soluções governamentais para problemas sociais. Quando se fala em aquecimento global, qual a opinião sorrateira que fica sempre à espreita? "O Estado é a solução". Mas o economista sabe bem como funciona, e de que é composto, o Estado. Sem ilusões: os políticos não têm mais conhecimento e nem melhores intenções do que o resto da sociedade; via de regra, têm menos e piores - governador Arruda que o diga. Quando encontram um jeito de aumentar seu poder sobre a vida alheia, pode apostar que as belas justificativas surgirão.
É natural que aqueles que mais valorizam a liberdade não vejam com bons olhos o alarmismo verde, que, como todos os pânicos generalizados, resultará em crescimento estatal. Também é natural que estejam mais propensos a considerar o outro lado da questão: os cientistas céticos e as pesquisas dissidentes que são discretamente limados do debate público por seus resultados politicamente indesejáveis. É uma postura saudável.
Entretanto, essa sã desconfiança não deve nos levar a rejeitar a priori todo problema ambiental como se se tratasse necessariamente de fraude motivada politicamente. O meio-ambiente deve sim nos preocupar, e sua destruição ou degradação é um mal que todos - até mesmo um economista liberal - querem evitar. Seu olhar frio e penetrante, insensível à demagógica indignação moral dos medalhões da política, talvez não dê respostas, mas certamente suscita perguntas importantes - e, nem preciso dizer, inconvenientíssimas - que, no entusiasmo do momento, não são feitas.
Não estou falando das questões propriamente científicas (existe aquecimento global? Ele é causado pelo homem?); embora nem nessas haja o consenso que alguns fazem parecer. Também haveria muito o que falar sobre como a tentação do financiamento público viesa os interesses dos pesquisadores. Mas as perguntas que tenho em mente são outras: referem-se às conseqüências práticas das descobertas científicas.
Primeira: as conseqüências do aquecimento global serão negativas ou positivas? Atentem para o que os alarmistas escondem: se há mais mortes de calor ou de doenças ligadas ao calor, há menos mortes de frio e de doenças ligadas ao frio. Se há terras que deixarão de ser cultiváveis, outras passarão a sê-lo (imaginem o potencial agrícola do Canadá, da Groenlândia, da Rússia). Concedo: dado que nosso modo de vida está adaptado à temperatura atual, é previsível que qualquer mudança de temperatura, para mais ou para menos, traga mais custos do que benefícios no curto prazo. No longo, a coisa muda: via de regra, mais calor aumenta a quantidade e a diversidade da vida na terra, como também torna mais fácil a vida humana. O esfriamento global (como se temia e se alardeava poucas décadas atrás) seria muito mais perigoso do que o aquecimento. Depois de um período de adaptação pode ser que a humanidade esteja em melhores condições do que estava antes. Quem disse que as temperaturas atuais são as melhores possíveis?
Segunda: a prevenção em larga escala vale a pena? Mesmo que as conseqüências negativas superem as positivas, não se segue necessariamente que medidas devam ser tomadas para evitar o aquecimento global. Falta comparar custo e benefício, um raciocínio fundamental para qualquer tomada de decisão e que tem sido inexplicavelmente ignorado. Qual o ganho esperado de se cortar radicalmente as emissões de carbono, com perdas brutais de produtividade e qualidade de vida no presente? Se for, digamos, atrasar em míseros dois anos o aquecimento global, valerá a pena? O ambientalista Bjorn Lomborg tem feito sucesso mostrando exatamente isso: pelos próprios modelos do IPCC, as soluções propostas a custos altíssimos têm resultados minúsculos. Não seria melhor deixar as pessoas se adaptarem gradualmente à nova situação, a custos muito menores, poupando assim recursos para outros fins?
O mar subiu bastante desde o século XIX até o presente, e não foi nada catastrófico, devido à adaptação gradual. A previsão de 50 cm a mais no nível do mar, ou temperatura 1 grau Celsius mais alta, daqui a 100 anos (um futuro francamente inimaginável, a começar em termos tecnológicos) não deve nos colocar em estado de pânico, e sim nos levar a pensar, inteligentemente, em como minimizar os custos e aproveitar as oportunidades da nova condição.
Não há nenhuma atitude menos construtiva e mais enganadora do que "na dúvida, melhor não arriscar", usada para justificar toda e qualquer medida de combate ao aquecimento global. É possível que uma quadrilha de bandidos hi-tech esteja planejando invadir sua casa. Será que, só por via das dúvidas, vale a pena gastar todas as suas economias, incluindo o que iria para a educação de seus filhos, para contratar um esquema de segurança de ponta? "Na dúvida, melhor não arriscar"? Balela demagógica. O cálculo de custo e benefício deve sempre ser feito, ponderado pelas incertezas.
Por fim, supondo que os resultados do aquecimento global sejam realmente catastróficos e exijam medidas preventivas, resta a pergunta decisiva: qual a melhor solução? Seriam críveis as propostas, por exemplo, de um mercado de créditos de carbono? O modelo atual não tem nada de mercado: governos ganham cotas e usam-nas para cartelizar a economia. O custo dessas medidas envolve não apenas dinheiro, como também o crescimento estatal (e pior: de um Estado mundial) e a piora considerável que isso traz à vida humana, cada vez mais vigiada e controlada.
Até agora, todas as propostas partem da idéia ingênua do Estado, ou seja, daqueles que têm o direito à coerção, como eficiente, sábio e bem-intencionado, e do mercado, ou seja, da interação voluntária entre indivíduos livres, como inerentemente destrutivo, ganancioso e mau. Estamos à espera, ou em busca, de uma visão de mundo que harmonize o bem-estar humano com a preservação do meio-ambiente. um liberalismo verde, um ambientalismo verdadeiramente capitalista, que resolva os problemas ambientais não pelos cálculos fictícios e imposições arbitrárias de um distante poder estatal, mas pela cooperação voluntária de indivíduos conscientes de que o próprio bem-estar depende do bem-estar dos demais, e que a qualidade do meio-ambiente é condição necessária da qualidade de vida.
Joel Pinheiro da Fonseca é membro do Instituto de Formação e Educação e um dos responsáveis pela publicacção da revista Dicta&Contradicta
0 Recados:
Postar um comentário