Tao Te Ching de Lao-Tsé

  • on 19/09/2009
  • Lao-Tsé(?-?) foi um sábio chinês. Sua vida e até mesmo sua existência é uma icognita, já que praticamente seu único registro é sua obra, composta principalmente do livro aqui analisado. Muitos são os mitos sobre ele, como o que nasceu velho ou que emanou raios de luz de diversas cores numa peregrinação no deserto de Gobi, porém filtrando sua biografia, vemos que foi bibliotecário e historiador real por quase quarenta anos, o que explica a familiriadade com a família real que é perceptível em alguns dos seus textos.


    Algo que eu espero que sempre seja levado em consideração, mas que preciso acentuar nesse texto, é que a edição que é lida faz toda a diferença(motivo pelo qual sempre coloco no final do post a imagem da versão que li). Considerando que a língua chinesa utiliza ideogramas que representam idéias no lugar de letras ou sons, não usava nenhum tipo de pontuação(um dos motivos para o livro ter sido escrito na forma de poemas) na época e que nela o sentido deve ser extraido do texto como um todo e não de estruturas de idéias como as frases, além de eventuais explicações que um livro desse tipo precisa ter, tanto a obra quanto a edição são essenciais.
    Huberto Rohden(editor do livro) procurou muito mais se concentrar numa tradução das idéias do que numa tradução do texto. Apresenta os 81 poemas originais do livro, cada poema seguido de um pequeno comentário ou explicação. Basicamente o autor se apoia no conceito de Tao(ideia que o próprio livro não explica, pois é o axioma(basicamente, a pedra fundamental) do Taoísmo e do próprio universo, na Tei Gi(símbolo do yin e yang) como a constituição do Todo pela existência de dois componentes que podem ser entendidos como masculino-feminino ou receptividade-datividade, no wu wei que é o agir pelo não agir e na importância da construção do Eu ao invés da nutrição do ego. Afirma também a profanação da sapiência pela erudição, considerando a tarefa de um sábio buscar a sabedoria pelo auto-amadurecimento, reclusão e experiência de vida. Por desprezar o racionalismo e focar na razão quase “sensorial”(na falta de uma palavra melhor), há um estranhamento, já que estamos acostumados a uma filosofia justificável e que tem origem na lógica empírica. Apesar de qualquer discordância, é um escrito interessante, nem que seja para refletir sobre nosso cotidiano e a relação com nosso Eu e com os outros.
    Trecho do livro:
    Tudo o que existe egressa do Ser
    E regressa ao Ser.
    O Ser é o Insóndavel Tao.
    Das profundezas do Ser
    Nascem todos os seres que existem.
    O Ser, porém,
    É o abismo do Não-existir.”
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