O Desespero Humano de Søren Kierkegaard

  • on 29/08/2009
  • Søren Aabye Kierkegaard(1813-1855) foi um filósofo dinamarquês, sendo até considerado pai do existencialismo, pela sua profunda análise da existência humana e por considerar prioridade a análise do eu no lugar do usual questionamento filósofico sobre a estrutura da natureza e do Todo. Tendo tido uma rígida educação religiosa, sua obra está coberta de uma profunda influência religiosa, chegando mesmo a distinguir o cristão do homem natural, além de ressaltar a fé como princípio fundamental e não a razão, o que é algo muito curioso, considerando que é um filósofo pós-iluminista, e que fez com que seu trabalho não ganhasse relevância considerável e que fosse até mesmo ridicularizado na época. Independentemente da questão religiosa, sua dialética é precisa e tem brilho.


    O Desespero Humano é um tratado que trata do que o autor considera como uma doença, mas que caracteriza como quase uma “característica” humana, pois além de ser exclusiva de nosso espécie, por termos um grau de evolução superior, quase a totalidade do seres humanos possui o desespero, às vezes latente, de variados tipos . O livro trata basicamente da distinção desses tipos de desespero (como o da negação do eu, o da negação da criação, o da vontade de ser o seu eu). Usando o desespero como método, Kierkegaard mostra diferentes tipos de seres humanos, a reação a certas situações, o estado de aprimoramento espiritual e intelectual, além da importância da fé e da religiosidade no dia a dia, unificando-os todos numa síntese, entre divino e material, chamada homem e na relação dessa síntese com o Todo, o eu, e ,talvez o maior mérito desse livro, mostra que só com a relação com Deus, o homem pode apreender o estado do verdadeiro desespero e vencer a doença mortal.

    Trechos do livro:

    “ Quando se supõe misturada ao imediato uma certa reflexão sobre si próprio, o desespero modifica-se um pouco; o homem, algo consciente do seu eu, é-o também um pouco mais, e por isso mesmo, do que é o desespero e da natureza desesperada do seu próprio estado; que fale de estar desesperado, e já não será absurdo; mas no fundo é sempre desespero-fraqueza, um estado passivo; e a sua forma continua a ser aquela em que o desesperado não quer ser ele próprio.
    O progresso, neste caso, no puro imediato, está em que o desespero já não provém sempre dum choque, dum acontecimento, mas pode ser devido a essa reflexão sobre si próprio, e não é então uma simples submissão passiva a coisas exteriores, mas, em parte, um esforço pessoal, um ato. Manifesta-se aqui, efetivamente, um certo grau de reflexão interna, e portanto um regresso ao eu; e esse começo de reflexão inicia a ação de escolha pela qual o eu se apercebe da íntima diferença com o mundo exterior, começo que também inicia a influência dessa escola sobre o eu. Mas isso não o levará muito longe. Quando o eu, com a sua bagagem de reflexão, vai assumir-se inteiramente, arrisca-se a chocar com qualquer dificuldade na sua íntima estrutura, na sua necessidade. Pois que, tal como o corpo humano, também nenhum eu é perfeito. Essa dificuldade, seja qual for, fá-lo recuar aterrorizado.”

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