Ou a saga de um visionário para libertação de seu povo.
Quem tem uns 24 anos para cima lembra perfeitamente do universo de Eternia, seus heróis e seus supostos vilões, não vou me demorar em explicar para que não conhece, infelizmente não tenho tal poder de síntese. Mas posso dar uma palhinha:
O desenho se resumia a uma guerra pelo poder em Etérnia entre o Esqueleto e He-man, aquele querendo tomar o poder do pai deste, o Rei Randor. He-man e seus amigos, contra Esqueleto e seus asseclas. Nada muito criativo. Mas...
Eu nunca gostei muito do desenho, mas aos poucos descobri por quê, estava na sétima série ou oitava série e comecei a estudar absolutismo francês, foi ai que cheguei a conclusão! O desenho nada mais era que uma visão deturpada da realidade de Etérnia. Acompanhe o meu raciocínio:
A família real morava num majestoso castelo, uma fortaleza inexpugnável no alto de uma montanha ingrime e rochosa cercado por criados e pela mais fantástica tecnologia, está produzida exclusivamente para os membros da família real pelo seu inventor, o gênio Mentor que também era uma espécie de chefe da guarda pretoriana.
Esqueleto, por sua vez, se reunia em uma montanha longínqua com seus parceiros onde bolava seus planos e ataques. Montanha da Serpente era nome, mais de uma vez invadida por He-man e os seus.
Mais comecemos pelos detalhes, são eles que entregam o verdadeiro jogo que ocorre em Etérnia. Enquanto a família real e seus aristocratas tecnológicos moram nessa torre nababesca toda as vezes, sem exceção, que os moradores de Etérnia eram retratados a imagem é a mesma, feiras medievais!, tendas, casebres, bancas de frutas. Mas isso é só o começo.
Em NENHUM dos 130 episódios retratou um fala do rei Randor dizendo coisas como: "Tenho que me reunir com o primeiro ministro" ou "Antes devo consultar o parlamento" ou mesmo "Hoje tenho que ler o discurso na posse do novo gabinete"!!! NUNCA!!! Nem mesmo seu dublé de cientista e chefe da segurança do regime, Mentor, jamais alertou o Rei sobre a possibilidade de um ataque do Esqueleto durante o dia de eleições gerais.
Tudo isso por uma simples razão, Etérnia, não tem eleições, é uma monarquia absolutista, Randor não é uma rainha da Inglaterra, presa a um formalismo que remonta a tempos imemoriais, é um Czar, um rei Sol, "O estado sou eu"! Vivendo na opulência e na ostentação longe do povo que vive como vassalos e servos. Essa situação foi constatada por seu próprio pai, o Rei Miro, que passa anos vivendo entre o povo até voltar ao opulento castelo onde mora o filho a nora e o neto.
Além disso os demais elementos do desenho só confirmam essa perspectiva, para que um rei amado precisaria de tamanho gasto com segurança? Além disso o claro uso da religião para manipulação do povo é óbvio, o sombrio castelo de Grayskull onde uma feiticeira busca a todo custo manter a realeza protegida das investida do Esqueleto e seus revoltosos. Assim como os haitianos sofreram sobre a tirania de Baby Doc e sua aliança com o vudu, a população de Etérnia fica desguarnecida frente a aliança entre um monarca tirânico e uma religião obscura.
Essa imagem contrata totalmente com o que se vê na Montanha da Serpente, onde Esqueleto, cansado da opressão e miséria em que seu povo vive decide reunir os excluidos de todo reino para com eles destituírem essa corte de parasitas e instalarem A República Democrática de Etérnia.
Ao contrario da corte de puxa-sacos que rondam a família real, os companheiros do Esqueleto sentam em uma mesa, em formato oval, quase uma tabula redonda. Onde estão representados TODOS os elementos da sociedade eterniana:
Maligna, o braço direito de Esqueleto, a clara representante das mulheres de Etérnia, sabedora dos ritos antigos e livre da opressão masculina tão característica de impérios absolutistas.
Mandíbula, o operário, tendo seu corpo desfigurado pelas máquinas em que trabalhava, abandona o trabalho semi-escravo em que Mentor o mantinha para se juntar a rebelião, é claramente o representante do operariado de Etérnia.
Homem-Fera, o agricultor, brutalizado pela dura vida no campo, são homens como ele, que lutam para tirar da terra alimento para Etérnia, alimento que é em boa parte apropriado para manter a vida de desperdício e ócio onde vive o afetado príncipe Adam e os seus. Um claro representando do homem do campo.
Áquatico, o pescador, homem que tira sua sobrevivência do mar, dos rios ou mesmo dos lamacentos mangues, representa o extrativismo primitivo em que acorrenta boa parte dos habitantes do reino.
Entre outros menos conhecidos como Mudulok, o deficiente, Ciclope, o representante da pequena burguesia, etc.
Esqueletos e esses hérois lutam contra o poder encarnado por He-man, que nada mais é que a versão mascula de Adam, obviamente interessando em manter os staus quo e um dia tomar o lugar de seu pai como tirano de Etérnia. O patriotismo do Esqueleto, assim como sua abnegação foram postos a prova quando no epsódio mais emblemático da série.
Um ser perverso e externo aquele universo, a Semente do Mal ameaça consquistar Etérnia e levar destruição e morte a cada habitante daquele reino. Esqueleto não se furta a entrar no covil de seus inimigos e juntar forças com os lacaios do tirano para preservar sua terra natal do mal que a ameaçava.
Agora me digam, quem é o vilão dessa história?
Liberdade para Etérnia!!!
3 Recados:
Djan... Essa vida fácil está te levando a pensamentos muito filosóficos... E tais pensamentos estão estragando toda a doce memória da minha infância...heheheh
nossa, tudo que eu achava tao lindo...alias,sonhava em ser a she-ra...rs
o afetado príncipe Adam?:O
obrigada pela visita ao meu blog.
abraço
Tudo o que vc escreve nos faz realmente pensar, agora, não dá pra afirmar. A quem defenda que muitas intenções, por mais absurdo que pareça, são feitas através de desenhos para mostrar racismo, homofobia e manipulação do povo. Não dúvido. O povo é realmente manipulavel em sua maioria. Valeu sua observação.
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